quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Rosinha Lobato de Faria

Faleceu ontem a minha autora portuguesa preferida e a sua morte tocou-me muito. No ano de 2001 descobri os seus livros e desde aí devorei todos os seus romances. Há excepção dos livros de poemas, julgo que terei lido tudo o que escreveu e foi publicado, menos um livro em que participou que se chama qualquer coisa como "Os mistérios da Serra de Sintra". A Rosinha (como os mais íntimos lhe chamavam) Lobato de Faria era um talento ímpar no panorama da literatura portuguesa. Felizmente tive ocasião de lhe dizer isso mesmo pessoalmente, revelando-lhe a minha admiração pela sua obra, há cerca de dois anos na feira do livro. Conheci-a há cerca de 15 anos, numa entrevista que lhe fiz e numa altura em que ainda não se falava nela como escritora. Encontrámo-nos no Hotel Ritz, onde arranjava o cabelo, seguindo a sua cabeleireira de longa data. Foi simpatia à primeira vista. Ela era uma "Senhora" com letra grande. E linda de morrer. Lindos são também os livros que escreveu e que eu li vorazmente. Tenho alguma dificuldade em dizer de qual gostei mais, mas tenho um carinho especial por "Os três casamentos de Camila S", porque foi o primeiro que li. E em jeito de homenagem, voltei ontem à noite a pegar-lhe e está a encantar-me como da primeira vez. Já li quase metade. Fora esse, li "O pranto de Lúcifer", "Os pássaros de seda", "O romance de Cordélia", "O prenúncio das águas", "A trança de Inês", "O sétimo véu", "Os linhos da avó", "A flor do sal" (este autografado por ela), "A alma trocada", "As esquinas do tempo" e "A estrela de Gonçalo Enes". Li ainda outros livros que têm a sua participação, como "Seis contos de amor", "Eça agora", "O código d'Avintes" e "13 gotas ao deitar", e li algures um conto dela chamado "Maçã". Enfim, por todos os momentos que a sua escrita me proporcionou, pela magia que conseguia fazer com as palavras, aqui fica a minha homenagem a um grande mulher. Deixo aqui a letra da canção mais bonita que alguma vez levámos a um festival da canção, da sua autoria, interpretada pela Sara Tavares. Beijinhos e abraços. Até já.
"Chamar a música"
Esta noite vou ficar assim
Prisioneira desse olhar
De mel pousado em mim
Vou chamar a música
Pôr à prova a minha voz
Numa trova só p'ra nós
Esta noite vou beber licor
como um filtro redentor
De amor, amor, amor
Vou chamar a música
Vou pegar na tua mão
Vou compor uma canção
Chamar a música
A música
Tê-la aqui tão perto
Como o vento no deserto
Acordado em mim
Chamar a música
A música
Musa dos meus temas
Nesta noite de açucenas
Abracar-te apenas
É chamar a música
Esta noite não quero a TV
Nem a folha do jornal
Banal que ninguém lê
Vou chamar a música
Murmurar um madrigal
Inventar um ritual
Esta noite vou servir um chá
Feito de ervas e jasmim
E aromas que não há
Vou chamar a música
Encontrar à flor de mim
Um poema de cetim
Chamar a música
A música
Tê-la aqui tão perto
Como o vento no deserto
Acordado em mim
Chamar a música
A música
Musa dos meus temas
Nesta noite de açucenas
Abracar-te apenas
É chamar a música

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